Monday, December 27, 2010

O Medo do Aplauso

O Medo do Aplauso

Nao eh nenhum segredo que eu vivo com um horror 'secreto' de ser barateada pelo sucesso. Grotowski tinha uma insistencia filosofica que os ornamentos do sucesso (ex. grandes teatros ou o APLAUSO - ou ate mesmo atuar na frente de uma plateia) sao intrusos na busca por verdades mais puras. As vezes penso que quero ser envolvida por uma pratica monastica que so eh compartilhada com pouquissimas pessoas. Mas isso significaria que eu teria que criar uma audiencia elitizada e eu tambem nao quero isso. Quero ser testada no mundo real. Quero conhecer pessoas que nunca encontraram esse tipo de trabalho antes. Mas tento me lembrar que lado-a-lado com Idolos Pop e programas de talento na TV nos vivemos em um mundo onde muito do que tem sucesso tambem pode ser bom. Nao ha tragedia nisso, mas ha um perigo. Um perigo de ir de encontro contra uma parede de auto-satisfacao. So todos estao satisfeitos, plateia e criticos e artistas, tenho receio que teremos perdido aquele ideal constantemente inalcancavel de quanto mais longe eh possivel se aspirar.

A marca do aplauso indica um fim; os atores agora estao separados do que estavam representando, mas nos procuramos ser nos mesmos no palco. Nao ha separacao que se celebrar. O aplauso marca a aprovacao ou a nao-aprovacao da noite - seu sucesso. Que tipo de sucesso? Sucesso referente a que? Nao quero criar atores que tem como unica fonte de satisfacao as reacoes da plateia - como flores ou aplauso interminavel. O aplauso define o trabalho como 'entretenimento' que pode ser julgado como algo que tem inicio e fim. Mas nao quero que o trabalho termine ali. Ao inves disso, vamos ter um intervalo, tomar cafe-da-manha juntos e entao voltar a nossos rituais. Isso que quero que Hotel Medea seja - um ritual que eh parte de um outro ritual que tem a ver com como estamos vivendo nossas vidas hoje e isso continua enquanto nos, os atores, limpamos o espaco de trabalho, organizamos nossos materiais e nos mesmos, e a plateia volta a sua propria colecao de rituais que juntos definem a forma como decidimos viver. Quando nos lembraremos de escolher a forma que vivemos?
Texto de PJM

Festival de Monológos Teresina-Piauí 2009